Um poema

Um poema não escrito,
Exposto em gestos que contém grande mistério.
Um poema que começasse no parto
E só terminasse na chegada ao necrotério.

Um poema sem palavras
Que nunca fosse levado a sério.
Um poema feito do sal da lágrima rolada
E do bafo quente que acompanha uma risada.
Um poema com gosto de líquido placentário
E terra revolvida pelo trilho de uma larva.

Um poema sobre início e fim

Escrito sem tinta nem papel,
Fixado na vida de um qualquer
Preocupado com as contas e a mulher,
Que morre imaginando como é o céu.

Um poema vivido em qualquer idade.
Um poema que acorda muito cedo
Para trabalhar na contabilidade.
Que percorre os puteiros em sujos becos
Tentando escapar da responsabilidade.

Um poema-vida-comum,
Ordinário como o dia de qualquer um,
Cheio da beleza do não-dito
E da pureza de um relato não escrito.

Mc, 7/11/2009




Comentários

Postagens mais visitadas