Porta-clipes, fita crepe e genialidade

Para fazer um bom telejornal, é preciso usar equipamentos modernos. Se tiver também a mais avançada tecnologia de transmissão de imagens e informações, melhor ainda. Mas nada disso substitui o fator determinante: a criatividade dos profissionais.
Os produtores esquentam cabeça, olhos e ouvidos para descobrir os assuntos mais importantes. Lutam para apresentar os fatos cotidianos de forma atraente. Apuram toneladas e toneladas de informações, sempre atrás da correção. Haja fôlego.
O mesmo empenho se vê entre editores, repórteres, cinegrafistas, pessoal técnico. Um gigantesco trabalho em conjunto, com o objetivo de prestar um bom serviço à sociedade.
Se você ainda não desistiu desse texto mesmo depois de tanta rasgação de seda (merecida), aproveito para entrar de vez no assunto: criatividade.
Estou para ver bicho mais inventivo do que o cinegrafista. Esses loucos da imagem descobrem saída para praticamente qualquer saia justa. Nós, felizardos que temos o prazer de acompanhá-los no dia-a-dia, somos testemunhas desta verdade.
Vamos aos exemplos: para que serve um porta-clipes? Para guardar clipes, responderia um cidadão normal. Mas cinegrafista não é cidadão normal. No caso do Erlin Schmidt, o Paraná, por exemplo, porta-clipes serve para evitar reflexo de luz na imagem.
Vou tentar explicar – a história é tão doida que acho que vão faltar palavras.
Precisávamos gravar uma passagem (aparição do repórter durante uma matéria), mas havia um quadro brilhante no fundo, que refletia a luz da câmera.
Paraná não pensou duas vezes. Achou um porta-clipes vazio, de uns dois ou três centímetros de altura, e colocou-o atrás do quadro, encostado na parede. Resultado: o quadro ficou meio inclinado, e o peso dele sustentou o porta-clipes sem cair; física elementar…
Com a inclinação do quadro, o reflexo da luz sumiu e a passagem foi gravada. Mas só depois que o repórter, espantado, conseguiu fechar a boca.
Não esquente se você não entendeu. Eu presenciei a cena e até agora ainda não digeri a manobra.
Quantas vezes o Toni Mendes, o Vanderlei Duarte, o Ricardo “Passarinho”, o Savio Monteiro inventaram rebatedores de tampa de marmita, papel laminado ou até uma simples folha de papel. Tudo para tirar uma sombra do rosto do repórter.
E a fita crepe? Habilmente usada por Oswaldo Zague, Renato Isidoro, Carlinhos Velardi ou Marcio Silveira para consertar de tudo! Desde microfone até view finder (parte da câmera em que os cinegrafistas veem o que estão filmando).
Nas horas de aperto é bom contar com a calma e experiência de um Alfredo Morgante, ou o vigor talentoso dos mais novos, Edvaldo de Souza e Marcio de Campos. Sem falar no empenho e profissionalismo do Coutinho, do Zé Ferreira, de todos.
Não há dúvida: em TV tecnologia é fundamental, mas nada acontece sem o “jeitinho” dos cinegrafistas.
(Imagem: Silvino Santos filmando o Salto Teotônio em Rondônia, 1918 – Blog Pipica, do Rogelio Casado)

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