O peixe-macaco


Ninguém conhece sua aparência, posto que o bicho é tímido e forte – se agarra em seu esconderijo e não há cristão que o tire de lá. Nenhum pescador jamais o viu frente a frente. Mas todos sabem da existência do mais original dos peixes/primatas: o peixe-macaco.
Criatura da mesma linhagem do Boitatá, do Saci e da Mula-Sem-Cabeça, o peixe-macaco assombra as margens de qualquer espelho de água. Basta reunir uns amigos e ir para a beira de um rio, lago ou pesqueiro, que cedo ou tarde ele dá sinais de sua presença.
Gumercindo não escapou de travar conhecimento com essa espécie. Arrumou a tralha, preparou a vara na medida para pegar pacus, anzol no tamanho ideal, chumbada, boia, linha do melhor calibre, vara moderna de fibra de carbono.
Acomodou-se na margem do tanque daquele concorrido pesqueiro e preparou-se para o primeiro arremesso. Movimento perfeito, de bailarino, a linha sibilou no ar impulsionada pelo peso na ponta. Mas não chegou a tocar a água.
“Caramba, nem bem joguei o anzol e já estou fisgando”, pensou o pescador, antes de notar o que tinha acontecido. Olhou para trás e viu a linha devidamente enroscada na copa de uma árvore.
_ Olha o peixe-macaco! _ anunciou seu colega de pescaria entre risos e deboches.
Irritado, Gumercindo puxou e puxou. Mas o “bicho” oculto atrás da folhagem não soltava. O pescador puxou mais, insistiu, a irritação crescendo, as risadas dos outros pescadores aumentando de volume, até que a linha se soltou com um estampido seco. Sem anzol, é claro, que esse ficou de prêmio para o briguento peixe-macaco, invisível entre os galhos.
Gumercindo resmungou mal-humorado enquanto preparava a linha de novo, debaixo de piadas e risos.
“Deixem estar, cambada”, pensou, vingativo. “O peixe-macaco ainda apronta com vocês também”.
(Ficção inspirada em invencionice do cinegrafista Erlin Schmidt, durante pescaria para o programa Terra da Gente. Ilustração de Marcos Correia, tentando adivinhar a aparência do peixe-macaco)

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