Salada para daltônicos

Há uma opinião aceita pela maioria das pessoas, de que a natureza foi sábia e perfeita em tudo o que realizou. Se é mesmo assim, somos obrigados a concluir que nem a perfeição é suficiente para satisfazer o ser humano.
Irrequietos, curiosos, propensos a experimentos e desafios, somos todos nós. Não conseguimos apreciar o que quer que seja sem imaginar como “poderia ser”. Não passamos de crianças que se perguntam “por que o céu é azul” ao longo da vida. E, não satisfeitos, teimamos em imaginá-lo amarelo, vermelho, quem sabe verde. Infelizmente, até agora, temos tido sucesso apenas em deixar o firmamento cinza ou preto, tingido com nossas inesgotáveis chaminés.
Mas nossa “genialidade” também é capaz de criar beleza e surrealismo. É o que se nota numa feira de produtos agrícolas em Holambra (SP). Colocados lado a lado, encontramos pés de alface do mais profundo roxo. Não é uma questão apenas estética, como talvez alguém imagine: especialistas garantem que eles seduzem mais o consumidor do que as tradicionais alfaces verdinhas.
As variações cromáticas não param nas verduras, ou melhor, “roxuras”… tomates são amarelos como gemas de ovos; berinjelas pálidas como claras desses mesmos ovos…
Um cozinheiro com dotes de pintor não resistiria à tentação de fazer uma salada. Nenhuma novidade quanto ao sabor, mas quanta diferença no colorido do prato. Um desavisado iria direto da mesa para o oftalmologista, certo de que se tornara daltônico. Um daltônico, por outro lado, talvez se julgasse curado da distorção de cores.
Se alguém acha normais essas mudanças na ordem das coisas, talvez não se surpreenda também com a sobremesa. Uma melancia do tamanho de uma laranja grande, ideal para ser consumida por quem mora sozinho. Evita o desperdício.
Agora só falta inventar um sal que adoce e um açúcar que tempere… Pensando bem, é só trocar os rótulos do saleiro e do açucareiro. Acho que vou patentear essa descoberta…
(Inspirado em reportagem de Bianca Rosa e Alfredo Morgante para o Globo Rural de 11 de junho – Ilustração de Marcos Correia)

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