Carta a um estudante de jornalismo



            O jornalismo é uma cachaça. O jornalismo é um sacerdócio. Clichês que traduzem muito de verdade. Jornalista é, antes de mais nada, um viciado em jornalismo, como o alcoólatra que não larga a bebida. É também um devoto, como um sacerdote. No seu rosário, estão dogmas como o amor à leitura, o amor à arte de escrever, o ódio ao pecado da rotina. Rezar por esse credo ajuda qualquer um a se dar bem na carreira de jornalista. Mas é preciso mais. Ter censo crítico, estar bem informado, assumir compromisso com a verdade e a ética.
            A bagagem cultural, quanto maior, melhor. Ajuda no dia-a-dia. É costume dizer que jornalista é um especialista em generalidades. Acho que esta é uma das frases que definem com mais precisão esta atividade. Temos que saber de tudo um pouco, e sobre o que não sabemos, é preciso obter o mínimo de informação com rapidez. Nossa missão é muitas vezes traduzir – a linguagem técnica do cientista, o futebolês do esportista, o latim do advogado ou a conversa mole do politico -  para o público (leitor, ouvinte, telespectador…).
            Há campo para esse profissional em todas as mídias – radio, TV, jornal, revistas, internet (vide blogs e sites de notícias). O mercado anda meio saturado, mas isso não é motivo para desânimo. A competência costuma sempre encontrar espaço, seja em que área for.
            Mas não se iludam aqueles que procuram glamour nesta profissão. Nem todos os jornalistas são “celebridades”, ganham rios de dinheiro, fazem reportagens ao redor do mundo, aparecem nas revistas de fofocas. Esses são minoria. O jornalismo é feito mesmo no nosso cotidiano, muitas vezes normal e sem emoção. Prepare-se para fazer reportagens sobre venda de flores no dia dos namorados, ou ferias de artesanato, ou sobre o congestionamento na esquina.
            Há momentos, entretanto, que fazem a profissão valer a pena. Quando uma reportagem ajuda alguém, divulga um bom trabalho social, denuncia uma injustiça. Essa tem que ser a real motivação de quem se aventura pelo jornalismo.
            No mais, caro futuro colega, pode esperar salarios modestos, sobretudo no início da carreira. E longos plantões em finais de semana e feriados… Mesmo assim sou viciado nessa cachaça. Ser um pouco louco ajuda…

MC, 06/2008

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