Apagão

      

Imagem criada por I.A.

     Escrevo no exato momento em que a Europa volta à Idade Média, sem energia elétrica e internet. Perplexa, se debate freneticamente como um condenado à morte lutando para evitar o cadafalso.

     Ocorre-me que talvez não seja tão ruim passar alguns dias sem acesso à rede de computadores, longe de todas as fake news, todos os discursos de ódio e "desafios" assassinos que infestam esse meio.

     Claro que exagero. Sem eletricidade somos todos como morcegos durante o dia, cegos, paralisados e impotentes. O mesmo vale para a internet, nosso meio de comunicação "natural" nesses tempos de conectividade. 

     É incrível, porém,  o poder que a rede tem de disseminar o que não presta, mesmo com todas as facilidades que criou. Acho que já houve estudos indicando que as bobagens e maldades se espalham "N" vezes mais rápido pela internet do que as informações úteis e edificantes. Uma pena. Mas é o retrato do nosso perfil humano sedento de sangue. 

     Rezo para o dia em que os criadores de fake news e os propagadores da intolerância percam seu "encanto". Parem de receber tantos likes, visualizações e seguidores. Desejo de coração que eles não recebam sequer a oposição a suas ideias em comentários ou postagens... no fundo é isso mesmo que eles querem, disseminar sua virulência, ainda que seja através de debates infrutíferos em sites e perfis do instagram. Porque quando alguém se dá ao trabalho de contestá-los, na verdade acaba ajudando a multiplicar suas mensagens, seu ódio, sua futilidade e suas mentiras. É como a Hidra de Lerna, que ganha mais cabeças sempre que uma delas é cortada. É como um vírus, pulando de célula em célula, espalhando morte. 

     Rezo para o dia em que toda essa maledicência,  frivolidade e desinformação desperte zero interesse, a ponto de não valer a pena sequer discutir suas bizarrices. Será belo o dia em que toda essa sujeira virtual ressoe numa câmara vazia,  como os gritos de um prisioneiro em sua masmorra solitária.

     Mas os portugueses, espanhóis e franceses podem ficar tranquilos. A Internet vai voltar com todo seu poder narcotizante muito antes dos criadores de lixo digital perderem a popularidade. 

     Afinal, mesmo não dispondo de tempo a perder, gostamos muito de perder tempo. 

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