Hipocrisia


 A fé extremada já serviu de argumento pra muita barbaridade. 

A defesa da moral e dos "bons costumes" já desandou em imoralidades escabrosas e na criação do péssimo costume de julgar e condenar as pessoas pelo simples fato de serem como são.

O nome de Jesus já apareceu em mais de uma conversa repleta de homofobia, xenofobia, racismo, misoginia, discriminação de todo tipo, desamor. 

Culpa do Mestre? Ou dos autodeclarados seguidores, que não entenderam nada das lições dele?

Jesus, em sua breve passagem pela Terra, preferiu a companhia dos "pecadores". Deixou os sacerdotes rezando em seus templos e foi confraternizar com rudes pescadores ignorantes e curtidos de sol. Andou com prostitutas e cobradores de impostos com fama de ladrões. Em suas pregações, não perdeu uma única oportunidade de descadeirar os hipócritas que batiam no peito dentro da igreja mas torturavam, exploravam, humilhavam e desprezavam os mais fracos assim que botavam os pés na rua. Valorizou os "desqualificados", vítimas de preconceito por causa do lugar onde nasceram ou da profissão que exerciam, mas dispostos a ajudar um estranho. Advertiu os doutores da lei, arrogantes e incapazes de entender que amor é tolerância, respeito, compaixão.  

Ah, mas hoje o Mestre seria entendido, pensamos. Só que continuamos dando mais importância à sexualidade do que ao caráter das pessoas. Continuamos prontos a condenar alguém simplesmente porque "não se encaixa nos padrões", ao mesmo tempo em que cometemos os piores crimes e injustiças na surdina. 

Permanecemos mais preocupados com as aparências das coisas do que com a sinceridade do coração. Mas, ora bolas, somos religiosos! amamos Jesus! não perdemos uma missa no domingo! Se ele viesse hoje jamais o crucificaríamos!

É o que pensamos. Mas será verdade?

Essa miopia moral que coloca regras acima da caridade  é responsável por grande parte de nossas misérias. Ela cega e envenena. Mas tem cura. O remédio é a autocrítica, a disposição para reavaliar nossos conceitos, a coragem de estender a mão não com uma pedra, mas com um afago. 

É muito mais difícil do que deveria ser, mas não é impossível. 


 


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