Nota de repúdio
Sejamos francos: quantas coisas no nosso dia a dia são dignas de repúdio! Na verdade nem se pode dizer que são dignas, em qualquer contexto. Vamos mudar para "causadoras".
É fácil identificar essas atitudes: racismo, machismo, assédios de diferentes tipos às mais variadas vítimas, agressões também das mais variadas, da psicológica à física.
Situações que revoltam: fome, miséria, injustiça, falta de acesso à educação e à saúde de qualidade, ao saneamento básico, à moradia digna.
No campo da política seria necessário um livro inteiro para enumerar as causas de ojeriza. Elegemos candidatos que se dizem "diferentes" durante a campanha e se mostram tristemente "iguais" depois de eleitos. Os conchavos, as negociatas, acordos que têm objetivos particulares e passam longe das necessidades do povo. As propinas e roubalheiras que, quando vêm à tona, se transformam em escândalos de vida efêmera, nunca durando mais que alguns meses nos noticiários antes de serem devidamente esquecidos.
E a vida segue, de uma indignação à outra.
A quantidade de disparates que infestam nossos dias vem acompanhada de outro problema, não menos nocivo: a inação.
Indignamo-nos, e só. Ou escrevemos belas "notas de repúdio" que perdem o sentido antes da tinta secar, e geralmente pecam pela ineficácia. Vão se juntando em textos e mais textos, repletos de termos rebuscados e semântica inflamada. Dava até pra publicar outro livro só com as tais notas, pra colocar ao lado do livro citado antes, da ojeriza na política. Livros condenados a embolorar na estante.
Mas, e na prática? É a pergunta que cabe.
Na prática, as notas de repúdio mereciam notas de repúdio contra sua inutilidade.
Na prática, o poeta tem razão:
Não ultrapassa as janelas/
De nossas casas.
(O link tem mais indignação)
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