Agiotagem legalizada

 




Antes de contratar um empréstimo no seu banco, consulte um agiota. 

Faça uma tomada de preços e analise as condições de pagamento do agiota. Não esqueça de incluir os ossos quebrados e as ameaças de arremesso de um penhasco em caso de insolvência. Mesmo com essas cláusulas pouco ortodoxas você  vai ficar na dúvida sobre qual o melhor negócio.

O banco esfrega crédito na sua cara como um canto da sereia, um negócio da China. Crédito pré-aprovado para comprar um carro, uma casa ou o que você quiser, sem burocracia nem comprovação de renda. Não se engane, o banco já sabe de cada centavo que você ganha e conhece a fundo sua capacidade de ser esfolado. 

Se precisar de mais dinheiro, você pode dar seu patrimônio como garantia e levantar até 60% do valor de tudo o que é seu, em espécie, na hora e sem complicação. Se não pagar, o banco arranca seu patrimônio e a vida segue. 

O real que você deve ao banco é muito mais valioso do que o real que você por acaso consiga poupar, num hipotético milagre. Compare os juros sobre o que deve e o ganho sobre o que poupa. Vai ver que não podemos estar falando do mesmo dinheiro.

O banco não perde nunca. Se você não estiver vivo para pagar o que deve, ele dará um jeito de ir atrás de seu parente mais próximo. Aliás, essa é outra semelhança com a agiotagem. Só que as instituições financeiras ainda contam com o amparo da lei, as garantias de infindáveis parágrafos de contratos e, num último caso, terão sempre o socorro governamental se tiverem emprestado muito mais do que recomendaria a prudência. 

Já o pobre do agiota só vai poder contar com o talento do grandalhão que encarregar da cobrança e o brilho das ferramentas de tortura para intimidar o devedor e tentar reaver algum eventual prejuízo. Chega a dar uma certa pena tamanha falta de recursos do emprestador a juros, em comparação com os bancos. 

Por tudo isso eu repito: pesquise antes de fazer um empréstimo bancário. Jogue fora seu cartão de crédito. Fuja das garras do cheque especial… e avalie a camaradagem e generosidade do agiota mais próximo. Para escapar dele, ainda poderá recorrer à polícia. Mas no caso dos bancos quem pode acabar preso em caso de falência é você. 

A menos que sua dívida seja de bilhões. Aí será tratado de "doutor",  com direito a sala vip e cafezinho expresso na agência bancária. 

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