Domingo

 

"Cigarro de palha depois da chuva" de Marcos Correia

Um mundo mais evoluído do que este em que vivemos seria um mundo em que todo dia seria domingo.

Ok, vamos tolerar também o happy hour de sexta-feira e os embalos de sábado à noite.

Claro que seria um domingo livre!

Médicos, vendedores de shoppings, jornalistas e quem mais faça plantões dominicais entenderão a importância desta ressalva.

Uma vida inteira em que tivéssemos tempo para fazer apenas o que quiséssemos.

Uma vida em que o foco não fosse lutar e conquistar, mas apreciar o que se conquistou.

Sem medo de perder tempo, uma vez que o prazer seria "eterno enquanto dure", como disse o Poeta.

Um mundo mais evoluído teria parques repletos de namorados, carrinhos de pipoca, passeios descompromissados e sorrisos abertos.

As praças estariam cheias de crianças brincando. Crianças de todas as cores e classes sociais, juntas e felizes. Aliás, um mundo mais evoluído não teria essas distinções de raça, credo, condição financeira, ideologia política.

Não haveria injustiças a enfrentar nem guerras a combater.

Um mundo mais evoluído teria o sol irradiando energia, com sua luz comunicando a certeza de que tudo estaria bem também no dia seguinte -  que também seria domingo.

Problemas seriam extirpados da realidade. Esta palavra nem existiria nos dicionários. "Pressa" também não. "Contas a pagar? O que é isso?"

Um sujeito mais racional dirá que num lugar assim faltaria a alegria do desafio, das dificuldades a superar, das vitórias que tanto buscamos neste mundo imperfeito em que vivemos. Logo ficaríamos entediados, tristes, frustrados, porque é da natureza humana lutar, enfrentar, combater, conquistar e vencer. Eternamente insatisfeitos.

A estes que pensam assim, digo que num mundo perfeito nós, humanos, desejaríamos apenas o que o Tim e a Gal aprenderam a apreciar há muito tempo:

"Ver o sol amanhecer

E ver a vida acontecer

Como um dia de domingo"