Da Terra à Lua





Imagine o diretor da NASA planejando a próxima viagem à Lua. Muita coisa tem que ser levada em conta num empreendimento desses, mas para simplificar, vamos nos ater ao combustível de foguete.

Ele vai precisar de uma determinada quantidade de combustível para fazer o astronauta chegar ao satélite da Terra, e outra para voltar. Dependendo da situação, pode até colocar mais que o necessário nos tanques do foguete. Nunca menos. Isso está fora de questão.

A maioria de nós tenta fazer uma viagem à Lua com menos combustível que o necessário. Todos os meses. 

Estou falando do salário de que dispomos para sobreviver por 30 dias e das despesas - previsíveis ou imprevistas - que temos que cobrir nesse período. 

Diferentemente do diretor da NASA, muitos de nós não calculamos quanto vamos precisar pra concluir a missão. Somos desorganizados, distraídos ou simplesmente irresponsáveis. Partimos para nossa viagem de 4 semanas sem saber direito o real volume de combustível no nosso tanque... Também não botamos nos nossos cálculos aquela paradinha pra um sorvete na estação espacial, ou a sessão de cinema no Cruzeiro do Sul, ou mesmo o gasto inesperado com anti-inflamatório depois daquela topada num asteroide.  

Mas é diferente, pensamos, não há um astronauta realmente dependendo dessas informações. Não é um caso de vida ou morte. Além disso, se calcularmos mal, ainda dispomos de "combustível extra", facílimo de conseguir: o crédito. 

Embarcamos, portanto, em nossa viagem mensal e ficamos sem combustível muito antes de chegar ao destino. Mas não nos desesperamos. Podemos encher o tanque de novo com o cheque especial ou o cartão de crédito, ou mesmo com um empréstimo consignado. E pronto. É só seguir viagem. 

O combustível extra dá uma sensação de poder. Só vamos nos preocupar com ele na viagem seguinte, quando chegar a conta. Aí somos obrigados a usar mais combustível extra pra cobrir o gasto anterior. A cada recarga dos tanques, nosso foguete vai ficando mais caro. A viagem segue aparentemente bem sucedida, mas não nos perguntamos a que preço. A cada jornada, somos obrigados a cobrir não apenas o combustível gasto, mas o valor adicional dos juros. E quando vemos, estamos enredados numa maquiavélica bola de neve.

Até que o foguete explode, absolutamente insustentável, jogando no espaço sideral nosso pobre astronauta desavisado. 

Se encarássemos o orçamento doméstico da mesma forma que o diretor da NASA encara o planejamento da viagem à Lua, sem "posto de combustível" para salvar a pele do astronauta no meio do caminho, dificilmente explodiríamos nosso foguete do crédito. Nunca seríamos náufragos no Mar da Tranquilidade.

É certo que isso implicaria numa viagem austera, sem "desvios" dispendiosos, e claro, num "espaço  sideral econômico" livre dos meteoros da inflação. 

Pensando bem, ir à Lua não parece tão mais complicado que chegar ao fim do mês no azul. 



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