Supermercado

 




     Saí de casa com missão das mais simples: comprar um suporte de coador de café, daqueles de plástico, sabe? "Tem em todo lugar", garantiu a esposa. 

     Todo lugar, menos os que visitei pra comprar o tal negócio. 

     Na terceira tentativa encontrei o que queria quando já estava quase desistindo. Como a gente perde tempo com essas coisas, meu Deus. 

     Fui para o caixa com este único ítem nas mãos. "Vai ser super rápido", me iludi.

     Na minha frente, só uma moça com poucas compras pra passar. "Vai ser rapidinho" pensei de novo. 

     A moça parou de repente e teve a ideia de conferir os preços dos produtos. "Nada mais justo", pensei... "Uma consumidora consciente". 

     Aí começou o meu suplício - se é que já não tinha começado quando saí de casa pra comprar o coador. 

     - Moça, o preço da paleta tá errado!

A moça do caixa (nem tão moça assim, diga-se) limitou-se a olhar para a cliente. 

     - Te mostro! Olha aqui no meu celular (ela tinha fotografado o preço, provavelmente já escaldada com as diferenças de preços na loja). Tava marcado $24,50 o quilo lá no açougue, mas aqui no caixa tá $34,90. 

     Fez-se um silêncio de longos segundos. Um menino começou a me empurrar na fila, certamente achando engraçado fazer aquilo. Depois de um olhar significativo que endereçei à mãe, a criança foi "delicadamente" contida. 

     A essa altura a moça na minha frente fazia uma terceira auditoria no preço da paleta, insegura da própria denúncia. 

     - Ah, não, moça - disse para a caixa impassível - a paleta mais barata é outra. Mas eu não vou levar essa, cara. Cancela a compra, faz favor. 

     A caixa aperta o botão chamando o fiscal de caixa, pega a esperar o fiscal, cancela a compra, reconta, desconta o valor da paleta, fecha a compra. 

     Quase terminada toda a complexa operação, surge mais uma pedra no meu caminho, afastando-me ainda mais da sonhada liberdade. 

     - Moça, pensando bem, vou levar a paleta, sim. 

     - Mas eu já cancelei. 

     - Não dá pra fazer outra compra, só da carne?

     Dava.

     Eu já começava a achar que estava preso num episódio de "Além da Imaginação", aquela série antiga de personagens que se viam correndo sem sair do lugar, andando em eternos círculos ou vivendo todo dia as mesmas situações. 

     Tudo pago, tudo certo, a cliente sai da loja, eu passo a minha insignificante compra em menos de dois minutos e ganho a rua. Vitorioso, afinal.

     Em casa, tudo o que espero são os parabéns da esposa por ter levado a bom termo a missão confiada:

     - Marido, era isso mesmo que eu precisava. Só que ele não está encaixando na garrafa térmica. 

Indaiatuba, 15/12/2022


 

     

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