Super Georgia

         Depois de uma sessão doméstica de cinema na TV a cabo e duas horas exposta ao ar condicionado, Georgia se ressentiu de uma forte dor de garganta. Quase sem voz, tomou um antigripal com antiinflamatório.
     Horas depois, sem conseguir dormir e ainda incomodada pela dor na garganta, entregou-se à impaciência e ao desespero. Levantou-se, foi à caixa de remédios na cozinha e revirou as embalagens atrás de algo que pudesse lhe oferecer algum conforto. Encontrou uma caixinha  branca com uma faixa e letras vermelhas. "Beserol", lia-se na embalagem. Curiosa, Georgia procurou mais informações: "analgésico", descobriu. Não pensou mais: engoliu um comprimido e foi se deitar, ignorando completamente aqueles nomes complicados - 30mg de cafeína, 125mg de carisoprodol, 50mg de diclofenaco sódico e 300mg de paracetamol... 
    Logo sobreveio um sono conturbado ofuscando a lucidez da moça. Ela se entregou a uma inconsciência nervosa e agitada. Ao sono, veio juntar-se o sonho. E o roteiro desses devaneios foi uma mistura do filme assistido mais cedo, uma produção de super-heróis.
     Georgia então se vê envolvida numa conspiração de humanos contra mutantes. Alguns amigos dela, todos evoluídos geneticamente, são caçados como párias. Ela própria se vê ameaçada pela limpeza genética que se pronuncia na sociedade, e que considera um crime qualquer desvio de DNA. 
     Georgia foge. Seus amigos fogem, igualmente. São perseguidos e têm que usar seus poderes especiais para superar os adversários. A mais poderosa nesse delírio, claro, é Georgia. Tem o poder de paralisar as pessoas com a força do pensamento, é mais rápida do que Mercúrio e tem força sobrenatural. 
     Durante a fuga Georgia se depara com a X-man Jean Grey, até então considerada a mais poderosa mutante do mundo. Com um simples gesto, Georgia paralisa a adversária que traiu a própria raça unindo-se aos humanos fascistas. 
     Quando a breve luta termina e os soldados se aproximam, Georgia acorda repentinamente. Nunca se divertira tanto. Justo no melhor do sonho acaba acordando? Não é justo. 
     Georgia olhou para a caixinha de Beserol e o antigripal sobre a mesinha de cabeceira; a receita para voltar àquele mundo maluco que a estranha mistura de remédios criou. 
     "Bem, vamos lá mais uma vez", pensa, jogando um comprimido de cada medicamento na boca, na esperança de retomar a história de mutantes exatamente onde parou. 

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