A tataravó do chat GPT
Na minha época de escola, o papel da Inteligência Artificial era exercido pela diretora da biblioteca municipal.
A biblioteca era o lugar onde se armazenava o conhecimento. A garotada da geração "Z" não deve ter a menor ideia do que seja isso, mas pelo menos uma vez por semana recebíamos a tarefa de fazer uma pesquisa, como dever de casa - e os livros pra isso estavam todos na biblioteca.
Acontece que a diretora da biblioteca já sabia o que queríamos! No começo eu achava que a professora a avisava, mas depois cheguei à conclusão que o primeiro aluno a chegar disparava o alerta: "A professora Graça pediu essa pesquisa pra quinta série "A". A gente tem que entregar amanhã". Aí o livro nem voltava pra estante depois de usado, já ficava ali pra todos os outros que vinham depois. Os colegas se encontravam, batiam papo enquanto copiavam o texto, era uma confraternização.
Desnecessário dizer que nossa "pesquisa" se limitava a copiar o livro. Desnecessário dizer também que não havia "leitura crítica", crianças que éramos, loucas pra terminar logo aquilo e ir jogar bola na rua.
Apesar desse sistema discutível, aprendemos alguma coisa. Crescemos e nos tornamos pessoas capazes de pensar. O medo hoje em dia é que a I.A. nos deixe preguiçosos e burros, "terceirizando" nossa criatividade e senso crítico. Seria como "copiar a resposta do livro", tudo mastigado, versão século 21.
Qual a diferença da minha infância para os dias de hoje? Desconfio que tenha algo a ver com a simpatia da diretora da biblioteca, sempre solícita e gentil. Uma característica que nenhum robô jamais terá.
Chego à conclusão que a diretora da biblioteca era a tataravó do chat GPT. Com a vantagem da humanidade e do carinho.
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