A arte de perguntar



Hamlet nos convida a profundas especulações existencialistas a partir de uma dúvida: "ser ou não ser, eis a questão".

Sócrates admitia, até com certo orgulho, a própria ignorância: "tudo que sei é que nada sei". Vamos dar um desconto para a falsa modéstia do filósofo. A frase exalta a importância da investigação, da pesquisa…

Da dúvida. 

Nosso mundo anda atolado de "certezas" demais. E com elas vem a intolerância. Se duas pessoas pensam diferente, e as duas têm certeza que estão certas, onde fica o espaço para a troca de ideias, o debate saudável ?

Uma pessoa com "certezas" absolutas não é capaz de crescer. Como poderia, se já "sabe" tudo? Descobrir algo novo, que contesta suas convicções, seria impensável, ainda que fosse uma verdade.

A história está cheia de monstruosidades cometidas em nome de certezas e convicções: as cruzadas, a inquisição que de santa só tem o nome, o terrorismo e praticamente todas as guerras. 

O remédio para a intolerância é a dúvida. Permitir-se perguntar se a razão não poderia estar com o outro. Mas perguntar como quem quer realmente descobrir a verdade, não como o surdo que só ouve a própria voz e finge levar em consideração o que o outro fala.

Talvez a primeira pergunta a ser feita seja esta: "o que faz de mim o dono da verdade, além da minha própria presunção?"



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