Riqueza

 

A melhor pousada


     O viajante encontrou pelo caminho um grande castelo. "Aqui certamente terei uma refeição honesta pra saciar a fome e um quarto pequeno para o meu repouso", pensou. 

     Mas logo no portão deparou-se com dois guardas armados com lanças e vestidos com armaduras prateadas. Ao notarem a aproximação do viajante, fizeram sinal para que parasse e exclamaram: 

     __ Aqui não há lugar para andarilhos e vagabundos. Dê meia volta e se afaste, se não quiser sentir a ponta de nossas lanças.

     Sem coragem para argumentar ou apelar para a caridade daqueles soldados, afastou-se lentamente apoiado no cajado, com o velho saco de viagem jogado às costas. 

    "Sem dúvida os moradores daquele palácio poderiam me oferecer um banquete e me hospedar num quarto do tamanho de uma casa, e ainda assim nada faltaria a eles. Mas a quem muito tem, faltou o principal: a caridade."

     O viajante continuou caminhando até uma pobre aldeia de casebres que pareciam prestes a desmoronar ao menor toque do vento. Ele se aproximou de uma das mais humildes moradias e bateu à porta. Atendeu uma velha senhora, vestida em trapos e com um lenço cobrindo os cabelos brancos. 

     __ Minha senhora, venho de uma longa jornada, sem repouso. Peço a caridade de um copo d'água, e que me permita descansar nos fundos da sua casa, debaixo das estrelas. 

     A senhora olhou para dentro de casa, chamou o marido, tão idoso quanto ela, e mandou que o viajante entrasse. Enquanto o esposo o acomodava na melhor cadeira da casa, ela foi até  o velho fogão onde achas de lenha já fumegavam, e tratou de atiçar o fogo. Preparou, numa velha lata de óleo vazia, um café ralo, e assou numa pedra aquecida, pequenos pãezinhos de milho. 

     Depois daquela humilde refeição,  o viajante se deu conta de que apenas ele comeu. Concluiu que o casal lhe ofereceu tudo o que tinha para o jantar naquela noite. Quando se preparava para sair e se deitar ao relento, foi convidado a ocupar um canto casa, mais perto do fogo acolhedor, sobre uma esteira tão simples quanto a que o casal usava para dormir. 

     No dia seguinte, ao retomar o seu caminho, o viajante pôs-se a refletir: "Aos que muito tem, faltou o mais importante. Aos que nada tem, por outro lado, sobrou o maior dos tesouros: o amor ao próximo".

     Naquela modesta moradia de paredes emboloradas e teto de sapé, ele foi tratado como um rei. 

     No meio da trilha, agradeceu da única forma que era capaz. Dobrou os joelhos numa oração silenciosa em favor dos dois idosos. E agradeceu também pelos soldados, que com seu desprezo tornaram o gesto do casal ainda mais radiante.

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