Imprevisível

          Caía uma garoa fina à saída da academia. Mas Flávia não sentia frio. Estava aquecida - pelo exercício, sim, mas, principalmente, por seus pensamentos. 
     A moça chegou ao carro, abriu a porta e sentou-se ao volante. Parou um minuto, observando as gotas que se engrossavam lentamente no para-brisa, num ritmo incerto. Uma aqui, outra ali, juntando-se acolá, formando uma película de água, numa dança lenta que lhe pareceu extremamente erótica. 
     Sim, sabemos, dificilmente algo inocente como gotas de chuva num para-brisa poderiam ser consideradas sexualmente provocantes. Mas na situação mental em que Flávia se encontrava, qualquer coisa induziria a pensamentos sexuais. Ela tentou afugentar as ideias promíscuas, ligou o carro e manobrou para a rua. Alguns minutos se passaram, os pensamentos lascivos permaneceram, um semáforo vermelho interrompeu a pequena viagem até em casa.
     Observando a luz vermelha deformada pela umidade, os devaneios eróticos ganharam ainda mais intensidade, estimulados pelo vermelho quente da lâmpada à sua frente. Flávia não se conteve: olhou para os lados, carros igualmente parados. Sentiu-se excitada pela própria ousadia e, ignorando o risco de um flagrante, colocou a mão esquerda por dentro da calça de ginástica. A mão da aliança… Seus dedos encontraram a vagina umedecida… pronta para o sexo. Começou então uma carícia, superficial a princípio, penetrante depois; afastou os lábios, massageou o clitóris. Contorceu-se de prazer. Abriu a boca, ofegante. Fechou os olhos. Acariciou mais e mais, enfeitiçada pela própria sexualidade.
     Os motoristas à esquerda e à direita do carro de Flávia notaram o que estava acontecendo e sorriram com malícia. Foram ignorados pela loira, completamente envolvida com o que fazia entre as pernas. 
     Flávia só voltou a si com a buzina do motorista logo atrás, reclamando do trânsito parado apesar do sinal verde. Ela se recompôs assustada, engatou o carro e prosseguiu. 
     Mais tarde, no banho, relembrou aquela tarde na academia. Jorge, filho da puta. O personal trainer que contratou há dois meses. Desgraçado.
     No começo o rapaz parecia muito profissional. Elaborou o plano de treinos, perguntou os objetivos de Flávia, organizou tudo de forma compatível com a disponibilidade de tempo da empresária. Flávia cuida do próprio negócio, uma franquia de roupas para executivos em que trabalha com o marido Roberto. Resta-lhe pouco tempo para cuidar da saúde, mas, vaidosa, Flávia faz questão de malhar o corpo bonito. Sofreu com bullying  na adolescência por se achar fora do peso - na verdade nunca foi gorda, mas a maldade dos colegas criou nela uma espécie de autocrítica doentia. De forma que, para evitar dar justificativas a comentários maldosos, se esmera em exercícios sempre que pode. 
     A verdade é que, se nunca foi gorda, hoje na idade adulta Flávia se tornou uma mulher de um corpo sedutor. Não muito alta, cabelos loiros e longos, rosto forte, lábios carnudos e expressivos, que se estendem pela parte inferior da face. A boca é longa, desenhada, marcante. O nariz,se não é fino, sem dúvida é bem feito,separando olhos profundos e instigantes, que ficam ainda mais marcantes sob o desenho de sobrancelhas espessas. 
     A cabeça, o pescoço, os ombros, tudo se encaixa como numa dança sexy. Os seios são fartos e redondos. A cintura fina destaca o quadril voluptuoso e as coxas grossas, douradas, longas. Os braços inspiram no observador pensamentos sobre maciez da pele e calor das mãos. Uma multidão de características em harmonia, que se juntam para formar uma bela mulher. Não dessas belezas cansativas de tão evidentes, magras como caniços; mas desafiadora, convidativa, que estimula mais e mais olhares a cada movimento, como se fosse um segredo a desvendar. Tudo isso fica ainda mais irresistível diante da aparente ignorância que Flávia tem do próprio poder de sedução.
     - Maldito filho da puta, diz Flávia debaixo do chuveiro, enquanto massageia os seios com a esponja macia, excitada; e relembra o último treino com Jorge. 
     Há algumas semanas o personal trainer começou a se insinuar. Antes discretamente, depois de forma mais escancarada. A verdade é que o rapaz de 23 anos não é nenhum gênio. Nem é da idade que Flávia mais gosta (sempre preferiu homens mais velhos)… mas algumas características do moço acabaram por lhe chamar a atenção. Não, não é a beleza física, como talvez alguém imagine. Nem os músculos salientes, embora eles sejam sem dúvida atraentes. O que despertou algo em Flávia foi a falta de jeito de Jorge, com investidas acidentadas e mal elaboradas, comentários de um machismo embrutecido, elogios sem brilho… sinais da inteligência limitada do rapaz. Flávia, acostumada a receber cantadas muito mais refinadas, de repente achou aquilo divertido. Começou a estimular o joguinho, com risinhos e olhares convidativos. Tudo muito inocente. Até aquela tarde. 
     O que desperta o desejo feminino? Ele surge de repente ou é buscado ao longo de demoradas e elaboradas idealizações? No caso de Flávia com Jorge, foi repentino como um acidente.
     Flávia havia começado um agachamento na barra fixa. Jorge observava. Flávia notava o desejo mal contido no olhar dele. Inesperadamente, isso a excitou. Aquele bobo, que mal conseguia se expressar, com nível mental pouco superior ao do peixe de aquário que Flávia mantém em sua sala de trabalho… a olhava com uma intenção primitiva, grosseira, sexual. Os olhos dele se concentravam em sua bunda que abaixava e subia no ritmo do exercício.
     Subitamente, sob a alegação de corrigir o movimento, Jorge se aproximou por trás e colocou as mãos sobre as de Flávia, na barra. Ficou bem perto do corpo dela. 
     - Isso num tá bom, Flávia. Joga o bumbum mais pra tráis na descida. Pés mais pra frente. Quando descer o seu juelhu num podi passá da linha du pé. Vamu lá… isso, isso… assim, bem melhor. - Jorge descia junto com Flávia durante o exercício, muito perto dela. A loira conseguia sentir a respiração do personal trainer em sua orelha, um perfume quente de saliva com chichete de menta, que ele sempre mastigava. Tudo isso a excitou de forma surpreendente. Numa das descidas, sua bunda se encostou na bermuda de Jorge, e ela percebeu uma robusta ereção. Inconscientemente, empinou ainda mais a bunda nos próximos movimentos. Olhou em volta, assustada com a própria ousadia… ninguém em redor parecia dar atenção aos dois na barra fixa. Pelo espelho à frente do aparelho, fitou os olhos de Jorge. Ele sorria com atrevimento e repetia baixinho:
     - Bom… muito bom… perfeito, Flávia, agora você tá fazenu direitinho. - Ele encostava o membro duro na bunda de Flávia enquanto falava. 
     Ao se lembrar da situação, durante o banho neste chuvoso início de noite, Flávia gozou no chuveiro. Seus dedos dentro da buceta, mexendo, alcançando os pontos exatos do prazer. Soltou um grito e finalmente relaxou. Por um minuto não ouviu mais nada. Nem a água escorrendo, nem a chuva do lado de fora do apartamento, que se tornava cada vez mais forte.
     Flávia saiu do banheiro. Precisava de mais. Vestiu sua melhor lingerie, uma camisola preta de seda e alcinhas que caía sobre seu corpo como uma segunda pele, desenhando suas curvas num brilho negro sedutor. Foi para o quarto e esperou pelo marido.
     Roberto chegou cansado e irritado. Tinha visitado sócios que simplesmente destruíram o conceito da franquia que desenvolveram juntos, ele e Flávia. As atendentes estavam mal vestidas, os provadores eram apertados demais, a distribuição das roupas estava equivocada. Irritado, Roberto jogou a maleta sobre o sofá, afrouxou o nó da gravata e foi se servir de um uísque. Parou com o copo a meio caminho da boca, ao olhar para o lado e ver a mulher com a camisola preta que tanto amava. Sabia que aquela roupa era um convite mudo para o sexo. "Caramba, justo hoje que estou tão cansado", pensou… mas o corpo feminino à sua frente deixou claro que ele não faltaria às vontades da esposa. 
     Sem dizer nada Flávia se aproximou do marido. À medida que se aproximava, algo indescritível alterou a percepção que aquela mulher tinha da realidade. Flávia deixou de ver Roberto à sua frente - o marido levemente magro, de camisa social e calças cinza. Quem surgiu diante de seus olhos foi um jovem alto e musculoso, em camiseta de ginática e bermuda grudada ao corpo. Era Jorge que estava ali. 
     Flávia beijou "Jorge" na boca. Imediatamente sentiu na língua o sabor do chiclete de menta do personal trainer. Um arrepio de pavor e tesão percorreu sua pele, eriçando seus pelos delicados. Isso a excitou. Enfiou a língua na boca do rapaz, explorando longamente as sensações do beijo. Os lábios se encontraram suavemente, depois se esfregaram sofregamente, as línguas começaram um duelo sedutor, uma esgrima quente. Flávia sentiu as mãos fortes de "Jorge" agarrando sua bunda - "meu Deus, essas não são as mãos pequenas do meu marido. São maiores, mais fortes", aquelas mãos passeando por suas costas nuas. De olhos fechados, Flávia se abaixou rapidamente e tirou o pau de Jorge de dentro da bermuda. Não era enorme, como deveria ser numa fantasia padrão… era num tamanho suficiente para satisfazer uma mulher fogosa, anatômico, bonito. E estava duro, latejava ao contato das mãos de Flávia "Que delícia, um pau diferente, depois de tanto tempo com o mesmo homem"… os pensamentos de Flávia tornavam tudo ainda mais envolvente. 
     Deliciada, a loira o colocou na boca. Primeiro beijou a glande. Depois a envolveu com os lábios. Então, usando a língua numa carícia quente, chupou aquele pau com tesão. Ela ia e vinha com os lábios em volta daquele pênis totalmente novo, desconhecido e, melhor que tudo: proibido! "estou traindo meu marido, isso é tão gostoso", pensava, enquanto chupava o personal trainer. Ela ouvia seus gemidos e isso a deixava ainda mais excitada. 
     Aquela carícia levou muito tempo. Então ela abriu os olhos e viu Jorge, com um olhar arregalado de prazer, observando o que ela fazia. As mãos de Flávia descansavam sobre as coxas do rapaz, sem tocar seu pênis. Apenas seus lábios carnudos e a língua quente massageavam o pau cada vez mais duro. 
     Jorge a ergueu e a empurrou para o quarto:
     _ Preciso ti fudê agóra! - disse o moço naquele seu português de estivador.
     _ Eu que mando! - respondeu Flávia. - Você só vai me comer quando eu disser.
     Surpreendido e angustiado, Jorge nem respondeu. Flávia o jogou sobre a cama e colocou as pernas em volta de sua cabeça. 
     - Agora você me chupa, seu filho da puta. Chupa minha buceta.
     O calor da língua de Jorge entre suas carnes fez com que Flávia gozasse rapidamente. A língua explorou seu clitóris, massageou com uma força que seguia os mínimos sinais que o corpo da loira emitiam, numa precisão obediente e assustadora. Depois, abrindo a buceta dela com os dedos, Jorge a penetrou com a língua. O gozo de Flávia molhava o rosto do amante. 
     - Agora você pode me comer.
     Flávia sentou sobre o pau duro de Jorge. Começou uma dança sensual, frenética, louca. Rebolava descontrolada, por cima do corpo musculoso de Jorge. Ela dominava, ela decidia que movimentos fazer. Gemia alto, seus cabelos se estendiam sobre suas costas contorcidas, seu sexo preenchido por aquele pau tão desejado. A dança ficou cada vez mais rápida, até o gozo. Uma urgência envolveu os amantes. Jorge virou Flávia de bruços e meteu. Bombou com força, raiva, tesão. Flávia pediu "me bate, filho da puta", e Jorge lhe deu vigorosas palmadas, os dedos da mão estendidos. A bunda gostosa de Flávia ficou com a marca perfeita da palma de Jorge.
     - Ah! Jorge! - gritou Flávia. 
     Então abriu os olhos e viu o marido estupefato. Há muito tempo os dois não transavam com tanto tesão. 
     _ O que você disse, amor?
     - FODE!, Roberto. Eu disse "Fode", respondeu Flávia, pensando rápido.
     E eles foderam. Muito mais, várias vezes mais. Até o cansaço abraçar os dois num sono quente. 
     No dia seguinte, na academia, Jorge recebeu Flávia com o costumeiro beijo no rosto, mas permaneceu no tradicional abraço um segundo a mais do que de costume.
     Durante o treino, nenhum incidente deu sinal de que a excitação da véspera se repetiria. Nenhum olhar trocado, nenhum contato suspeito… Jorge mastigava seu chiclete, olhava com um jeito profissional os exercícios executados por Flávia. Ela não sabia se aquilo era bom ou ruim. Decidiu não pensar mais no caso. "Fantasias", considerou. "são boas justamente porque não são reais".
     Ao final do treino, Jorge fez o convite.
     - Tá a fim de um suco? Um café? - o olhar primitivo e sexual estava de volta. Ali, naquele rosto desinteligente mas bonito. 
     Flávia apenas sorriu. 

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