Branco
Não o considerava uma cor.
Para mim era a ausência da cor, a não-cor. Sem personalidade, sem graça, invisível, transparente… inútil.
Alguns fatores contribuíam para este ponto de vista. Na minha caixa de lápis de cor, enquanto todos os outros lápis desapareciam rapidamente devorados pelo apontador, o branco permanecia intocado.
No caderno, naqueles meus primeiros desenhos, quando precisava representar o branco, bastava não usar cor nenhuma. Deixar a cor do papel imaculada.
Ou seja, o branco era mesmo dispensável.
Nem mesmo as aulas de física e a teoria das cores conseguiram fazer mudar aquela impressão infantil. Sim, passei a entender o peso do branco, mas foi um entendimento frio, técnico… teórico. Não bastou para eu "sentir" aquela cor pálida, para aprender a amá-la e respeitá-la.
Isso só foi acontecer anos mais tarde.
Quando comecei a me aventurar pelas tintas, a óleo primeiro, e acrílica depois, notei que na maioria dos estojos de pintura o tubo de tinta branca era sempre maior. Achei aquilo uma supervalorização inexplicável.
Mas quando precisei encontrar matizes e tons mais pessoais, que não estavam disponíveis nas lojas… aí finalmente senti o verdadeiro peso desta cor que tratei com injustiça a vida toda.
Todas as outras cores se curvam diante do branco. Entregam a ele sua alma, transformam-se, diluem-se, iluminam-se. O branco é o grande alquimista das cores.
Por outro lado, na técnica acrílica ou a óleo, o branco é "visível" por assim dizer; encorpado, vigoroso… Mesmo puro, mesmo sozinho. Destaca-se entre as outras cores na tela, bastando para isto a vontade do artista.
Algo que eu erroneamente considerava "transparente"… de certa forma a mais humilde das cores… na verdade é a mais poderosa. É, como ensina a teoria, a soma de todas as cores, a cor da luz.
Boa ocasião pra relembrar a velha lição de não julgar pela aparência, e não se entregar à primeira impressão das coisas.
Amei!!
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