Crime

     O policial grande, gordo e friorento saiu do pequeno quarto e acendeu um cigarro. Deu duas longas baforadas antes de falar com o colega novato, mirrado, imberbe e inseguro:
     _ Então, foi assim que aconteceu. O cara deu leite pro gato, apagou as luzes da sala e do banheiro e foi pra cama. Então tomou todos os comprimidos do vidrinho. Dormiu e morreu no meio do sono. Muito tranquilo, muito na paz, sem nenhuma dor ou convulsão.
     O novato olhou para a cara gorda do policial experiente. Depois olhou para as cinzas de cigarro caindo na porta do quarto. "Não devíamos preservar a cena?" perguntou-se, sem ter coragem de verbalizar a dúvida ao superior. 
     A cabeça do novato fervilhava. Se foi suicídio, como explicar a estranha marca roxa nos lábios do defunto? Ou os vergões no pescoço? Parece que o suicida lutou um pouco com alguém antes de dar fim aos próprios dias de forma tão plácida.
     Ele pode ter sido obrigado a engolir as pílulas. Tinha água na colcha e no chão perto da cama. Mas nenhum copo por perto. 
     Não seria o caso de analisar as unhas do morto pra ver se não têm a pele de um provável assassino?
     _ Caso encerrado! Exclamou o policial gordo, sem dar tempo pra qualquer conjectura do colega inexperiente. _ Acredite em mim,rapaz. A maior parte dos casos é muito, muito fácil de resolver. Fique comigo e verá.
     O novato não duvidou.

Comentários

Postagens mais visitadas