Proteção

Um menino de menos de três anos assistia ao desfile de carnaval com a mãe. No colo dela, o irmão mais novo.
Muita gente na rua. 
O menino ficou deslumbrado com as fantasias e os modestos carros alegóricos que ilustravam a folia da pequena cidade.
Distraiu-se por um instante e quando procurou a mãe, ela havia desaparecido.
Olhou para um lado, para outro, nada. Cercado de pessoas que pareciam gigantes de tão altos, não conseguia enxergar muito mais do que as canelas sacolejantes no ritmo da percussão.
Não ficou assustado, nem por um minuto. Começou a andar em meio à multidão, à procura da mãe. Andou o que lhe pareceu ser um tempo enorme. 
Com o passar dos minutos o número de pessoas em volta do menino foi diminuindo. Ele, sempre andando em frente.

Vislumbrou um belo caminho calçado, margeado de plátanus que pareciam fortalezas. O chão forrado de folhas cor de cobre. 
O menino seguiu por ali muito tempo, sem saber para onde estava indo, muito menos quando chegaria.
De repente ouviu a aproximação de um carro. Um homem acenou para ele da janela do motorista. Parou o veículo, abriu a porta, perguntou:
_ Pra onde está indo, amiguinho? Cadê seus pais?
Absolutamente tranquilo o garoto apenas deu de ombros, como quem respondia não saber.
Então ouviu uma voz feminina. Só naquele momentou notou que havia uma mulher no banco do passageiro.
_ Temos que levá-lo daqui - disse a mulher.
O homem pegou o garoto pela mão e conduziu pra dentro do carro. O menino sentou-se no colo da mulher e sentiu-se muito protegido.
Alguns minutos depois estava num lugar onde todos usavam uniformes. Uns homens perguntavam sobre seus pais.
- Meu pai é o fotógrafo Manoel.
- Ora, é o filho do Mané fotógrafo - berrou um dos uniformizados.
Nem dez minutos depois, o pai do menino estava com ele nos braços. A criança nem pensou em falar com o casal que a resgatou. Nem imaginou que devia algum agradecimento. Simplesmente saiu dali, de mãos dadas com o pai, para casa.
Só muitos e muitos anos depois, já homem feito, constatou a importância daqueles dois estranhos em sua vida. Uma lembrança acalentada com carinho, embora envolvida nas brumas da incerteza, apagada de detalhes. 
Uma proteção inesperada, que naquele momento não havia deixado nenhuma impressão mais forte na mente infantil… mas que depois de décadas se confirmou como um daqueles momentos que ficam para sempre, inesquecíveis.
Um homem e uma mulher, comuns como todos nós, anônimos como todos os anjos devem ser.


Comentários

Postagens mais visitadas